:: E se fosse você?

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quinta-feira, novembro 23

:: Encontrando Bin Landen

Entrei na sala com a sensação de que poderia ser arriscado não sair. Os cumprimentos iniciais foram cordialíssimos. Mas a quem eu queria enganar? Estava ali, bem diante de mim, um inimigo em potencial. O que eu queria era dar uma chave de braço no indivíduo e dizer que não concordava com nada do que ele fazia ali naquela sala. Mas decidi me conter e aceitei de pronto o convite para sentar. Erro número um. Nunca devemos aceitar um convite do inimigo.

Aquela cadeira ... Parecia maliciosamente construída para manter sob controle quem ali sentasse. Infelizmente, a vítima da vez era eu. Ordenou que abrisse a boca. Totalmente subordinada à suas ordens, obedeci. Erro número dois. Começou ali uma sucessão de torturantes minutos que pareciam não ter fim.

Decidiu dar rumo a uma conversa unilateral. Opinava sobre tudo. Falou até sobre os riscos que o mercúrio trazia para a saúde. Queria dizer alguma coisa, protestar que fosse, dar minha opinião. Impossível. Estava completamente mobilizada. Duas, três mordaças foram colocadas em minha boca para que eu não pudesse emitir qualquer opinião. Fora a injeção dada com o pretexto de que seria bom para mim.

Havia uma terceira pessoa na sala. Certamente cúmplice de todo o horror que acontecia entre aquelas quatro paredes. Vez ou outra dava ordens a essa terceira pessoa. Uma luz atordoante ficava o tempo inteiro ligada diante dos meus olhos. Artifício que devia ser usado para impedir o reconhecimento de seus rostos. Talvez por isso nunca tenham sido denunciados por seus abusos. Usavam máscaras que escondiam suas identidades frias e calculistas.

Os mascarados começaram então um diálogo:
- Pegue o fotopolimerável.
- Sim.
- Creio que não será necessária uma pulpotomia. Vou pedir um bite-wing.

Minhas pupilas dilataram. Meus olhos se moviam freneticamente para direita e esquerda. Percebi que o alvo era o dente 46. Ele repetia insistentemente. Marque aí o 46.

Ih. Disse o mascarado líder. Ih, pensei! Ih, repetiu ele. Não vou escapar, foi o que imaginei. O mascarado líder então revela. Fique tranqüila, Ih é uma cor do produto que estou usando no seu dente. Que nome para uma cor!, pensei E que diferença isso fazia. Eu não ia ficar tranqüila nem se Ih significasse um prêmio milionário da Mega Sena.

Depois de ver armas das mais sofisticadas sendo usadas contra minha frágil e indefesa pessoa ele avisou que eu poderia me levantar da temida cadeira.

Ainda psicologicamente afetada pelo recente trauma tive a nítida certeza de ter identificado o mascarado dentista. Sim, era Bin Laden. Não restava dúvida. Quis gritar que Bin Laden era dentista. Quis denunciar minha descoberta às autoridades internacionais e à imprensa. Acho que ele percebeu algo e no dia seguinte, sucumbida por dores terríveis, lá estava eu de novo; refém de suas ordens e sentada na mesma assustadora cadeira.

Não esperava por isso, disse ele. Muito menos eu, pensei. É uma pulpite (ou algo que o valha). Confesso que não entendi direito o que eu tinha. Bin Laden falava uma linguagem misteriosa. Ordenou que comprasse um comprido e fez uma profecia. Se em cinco dias aquilo não melhorasse teria que abrir de novo. Como assim abrir de novo?

Estava em pânico e disposta a qualquer coisa para não ter que ouvir o som de mais nenhum Ih vindo da temida voz de Bin Laden!!!!