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segunda-feira, novembro 27

:: Afinal, quem é sem-vergonha?

Ando abismada com a falta de noção da publicidade no país. Como nada pode ser generalizado, já vou adiantando que algumas boas produções se salvam, salvando com elas a reputação dos produtos e instituições que se vendem por aí.

No campo dos maus exemplos, me parece que a Nova Schin está, hoje, no topo da lista do que não se deve fazer quando o assunto é conquistar novos nichos de mercado via campanhas publicitárias. Não é a toa que a qualidade desta cerveja vem sendo questionada ao longo dos séculos. Nenhuma propaganda apelativa ainda conseguiu colocar ela no topo (se essa é mesmo a intenção dos empresários por detrás da marca). É somente a 4a mais vendida do Brasil. Se considerarmos as campanhas milionárias com intuito de fazer isso mudar, podemos perceber que a tática parece, no mínimo, equivocada.

Nem Zeca Pagadinho, o baluarte do consumo da cerveja, conseguiu sensibilizar o público para a qualidade da Nova Schin. Ao menos gerou polêmica, uma vez que era pública (e notória) sua paixão por outra marca conhecida.

A mais recente campanha da Nova Schin foi feita para comprovar o que estou querendo dizer. É, para mim, exemplo de uma profunda incompetência criativa. Abusando de clichês vulgares, a escolha dos atores também não me pareceu muito bem sucedida. A primeira vez que vi essa pérola fiquei atônita com a seqüência de interpretações duvidosas, vozes irritantes e feições cafajestes. Para não dizer da questionável lição de moral que o comercial deixa a todo povo brasileiro. Veja o vídeo completo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=OKMdkncIF8U.

Começa assim: Uma mulher entra em um castelo suntuoso atravessando, tensa, um corredor enorme, cercada por outras mulheres, essas seminuas, que compõem o que parece ser um harém. Carregando inconformada a camisa branca de seu marido, a mulher corre até um tal “Mestre Cervejeiro” que se esconde onde a água cristalina e o lúpulo se encontram. O mestre, figura folclórica típica, lembra em tudo o mestre de Daniel San ou o mestre Splinter, enfim.

Inconformada, a mulher mostra a mancha de batom encontrada no colarinho da tal camisa branca do marido. Quase chorando, ela acusa o marido de sem-vergonha. O “sábio” mestre logo sai em defesa do pérfido e oculto personagem XY e diz que não, o marido dela não é sem-vergonha.


Começa então um joguinho irritante. É sim para lá, não é não para cá; até que o mestre ordena que a sujeita tome um gole de sua cerveja. Reforça que a bebida é dele, mas que ele vai deixá-la tomar um golinho. Ela toma e Mestre Cervejeiro revela em tom triunfal: - Viu, seu batom ficou aqui no meu colarinho e o mestre não é sem-vergonha. Nunca vi associação lógica pior. E a câmara ainda dá um close no rosto do ator que está com a maior cara de sem-vergonha do universo. Péssimo.

Em seguida vem uma das cenas mais sofríveis. A moça se esforça para entender a lógica filosófica daquele ensinamento. Longos segundos depois ela solta um eufórico e ridículo: - Entendi! Termina com a mulher deixando o castelo feliz por mestre cervejeiro salvar seu casamento.

Dito isso eu pergunto: Afinal, quem nessa história é o mais sem-vergonha?

( ) O marido da camisa suja de batom?
( ) O mestre cervejeiro?
( ) A esposa traída que acreditou nele?
( ) Os publicitários que criaram a campanha?
( ) Os empresários que apoiaram e possibilitaram a repercussão nacional da milionária e questionável peça publicitária?
( ) Ou o consumidor que, apesar de parecer não tolerar o sabor da Nova Schin, viabiliza esse tipo de balela dando condições para que impérios como o do Grupo Schincariol se consolidem no Brasil?

Quanto ao consumidor, penso que é mais vítima que culpado. Afinal, temos sempre razão. De curiosidade, fui investigar o lucro líquido do Grupo Schincariol, segunda maior cervejaria do país. Não encontrei. Fui até a página oficial do grupo. Não está lá. O único relatório (O Social) disponível no site está com problemas técnicos e não abre. Regra geral, o lucro semestral dessas empresas gira em torno de 1 bilhão de dólares. Eu disse dólares.

Escândalos de fraude da Receita Federal, crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e falsificação de documentos a parte (leia mais aqui http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1703200628.htm ou em vários outros sites espalhados pela rede), não sei quanto a você, mas de um mercado milionário como esse espero respeito.

Não sou sem-vergonha e, portanto, não legitimo quem tente me convencer de que é normal ser assim. Depois ficamos por aí nos perguntando por que é que o Brasil não vai para frente. Posso arriscar alguns porquês. E você?

1 Comments:

At 8:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Concordo com vc. Abaixo a publicidade vulgar.

 

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