:: Terror na madrugada

Em um golpe desenvolvido ao longo de seus milhares de anos habitando a terra, o ser rastejante promoveu um zig zag por entre os pés da vítima com movimentos tão rápidos que só podiam ter sido dados por alguma entidade mística do mal.
Gritos, muitos gritos devem ter intimidado por um momento o asqueroso animal. Com a frieza que lhe confere o sangue, a barata conseguiu se refugiar em um gueto escuro atrás da porta. Já havia dominado completamente a vítima que a essa altura não sabia o que fazer!
A barata que devia estar, no mínimo, rindo da situação, continuou protegida pela sombra da noite. A vítima pensou em usar produtos tóxicos, o chinelo, em fazer uma imensa faxina na casa para aquilo não acontecer de novo. Pensou em ligar para o 193. Mas só pensou. Imaginou os bombeiros recebendo a ligação:
- 193, boa noite, em que podemos ajudar?
- É uma emergência. Mandem viaturas imediatamente para cá. Minha casa foi invadida.
- Calma senhora. Nos diga. O indivíduo está armado? Está lhe ameaçando?
- Não está armado, mas é extremamente perigoso.
- Consegue identificar o meliante?
- Sim. É uma BARATA.
- Uma barata, senhora?
- Voadora.
- Senhora, infelizmente não temos viaturas disponíveis para atender chamadas desta natureza. Aconselhamos que pegue o chinelo mais próximo e desfira um golpe fatal. Estará segura após este procedimento. Boa sorte!
- Não. Moço. Moço. Você não entende, eu preciso de ajuda! Ahhhhhhhhh!
Quando a barata já ameaçava voar, correu para a sala, trancou a meliante no quarto e lembrou de ligar para o porteiro.
- Ajude, por favor - disse já com a voz embargada.
Cinco minutos depois o problema estava resolvido.
- Elas entram pela janela e ficam escondidinhas em algum lugar na casa, até que aparecem - explicou o sagaz herói.
Dormiu desconfiada e com a certeza de que aqueles seres ainda vão conseguir dominar o mundo.